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LIÇÕES DE ABRIL: ABERTURA DAS LIÇÕES
Antes de darmos abertura às lições de abril, precisamos
compreender como se dá a construção da autoria/autonomia indígena.
Referência. |
Primeiramente, para ser apresentado sobre a
construção da autoria/autonomia indígena, é preciso compreender os conceitos de
autoria e autonomia. Assim, América Lúcia (2011, p. 85) pontua: “Procurei
rever a autoria nas práticas socioculturais, ampliando a sua compreensão como
construção coletiva, política, que abarca, fenomenologicamente, a interação e a
enunciação”.
Em redefinição da autoria, América (2011) apresenta
como equivoco a concepção tradicional de alfabetização, no qual é apresentada
que a construção da autoria se dá por viés da leitura e escrita. Esse é um mito
que contribui para a discriminação dos analfabetos que, por sua vez, passaram a
serem tratados como seres incapazes de pensar e agir, ou de ter domínio sobre
sistemas mais complexos.
“Na verdade, essa concepção de alfabetização associa-se a
concepções igualmente equivocadas em relação à escrita e oralidade,
atribuindo à primeira qualidade intrínsecas capazes de transformar mais abstrato,
mais lógico, mais reflexivo.”. (CÉSAR, 2011, p. 87).
Enquanto isso, a fala é vista como informal, subvertendo
e inferiorizando as culturas de tradições orais, como as indígenas. Além disso,
essas culturas passaram a serem propagadas como pouco aptas ao desenvolvimento técnico-informatizado.
Em consonância, América (2011, p. 88) e
apresenta:
“Tfoni (2000) tenta dissociar autoria de escrita, e letramento de alfabetização. Nesse sentido, faz uma aproximação importante entre
as práticas socioculturais centradas na oralidade e autoria: Argumenta que o
discurso oral do analfabeto pode estar perpassado pela auto-reflexividade,
definida como uma condição da autoria, que não é prerrogativa apenas dos
alfabetizados (...).”.
Portanto, pode existir uma produção escrita desassociada
à autoria, assim como pode existir uma produção oral associada a construção de
autoria e, à polissêmica, autonomia. E, com isso, há uma ressignificação no
conceito de autoria e autonomia, quando se refere aos indígenas.
“(...) no momento em que o sujeito fala, age e a partir de certa identidade, de uma memória, de uma
posição discursiva determinada, mas a sua voz se sustenta no sujeito operante, no sujeito que faz
escolhas, deseja, tem uma utopia, transforma-se incessantemente, é múltiplo,
cambiante.”. (CÉSAR, 2011, p. 92).
Assim, a construção e desenvolvimento da
autoria/autonomia indígena se dá, primeiramente, por meio da oralidade. Por
exemplo:
“(...) os Pataxó, principalmente de Coroa Vermelha, ao se
colocarem como interlocutores em contato direto do governo (...) tentaram
produzir seus próprios discursos, colocaram-se na diferença como
interlocutores, construíram a sua autoria, que se traduziu também na própria
organização da escola indígena. As diversas respostas dependeram da
complexidade das diferentes trajetórias de cada um, vividas coletivamente
(...).”. (CÉSAR, 2011, p. 92).
REFERÊNCIA:
CÉSAR,
América Lúcia Silva. Lições de Abril: a
construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA,
2011, p. 85-100.
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