quinta-feira, 23 de abril de 2015

2/10: Abril em Lições


2/10 LIÇÕES DE ABRIL: ABERTURA DAS LIÇÕES

Antes de darmos abertura às lições de abril, precisamos compreender como se dá a construção da autoria/autonomia indígena.


Referência.


Primeiramente, para ser apresentado sobre a construção da autoria/autonomia indígena, é preciso compreender os conceitos de autoria e autonomia. Assim, América Lúcia (2011, p. 85) pontua: “Procurei rever a autoria nas práticas socioculturais, ampliando a sua compreensão como construção coletiva, política, que abarca, fenomenologicamente, a interação e a enunciação”.
Em redefinição da autoria, América (2011) apresenta como equivoco a concepção tradicional de alfabetização, no qual é apresentada que a construção da autoria se dá por viés da leitura e escrita. Esse é um mito que contribui para a discriminação dos analfabetos que, por sua vez, passaram a serem tratados como seres incapazes de pensar e agir, ou de ter domínio sobre sistemas mais complexos.

“Na verdade, essa concepção de alfabetização associa-se a concepções igualmente equivocadas em relação à escrita e oralidade, atribuindo à primeira qualidade intrínsecas capazes de transformar mais abstrato, mais lógico, mais reflexivo.”. (CÉSAR, 2011, p. 87).

Enquanto isso, a fala é vista como informal, subvertendo e inferiorizando as culturas de tradições orais, como as indígenas. Além disso, essas culturas passaram a serem propagadas como pouco aptas ao desenvolvimento técnico-informatizado.
Em consonância, América (2011, p. 88) e apresenta:

“Tfoni (2000) tenta dissociar autoria de escrita, e letramento de alfabetização. Nesse sentido, faz uma aproximação importante entre as práticas socioculturais centradas na oralidade e autoria: Argumenta que o discurso oral do analfabeto pode estar perpassado pela auto-reflexividade, definida como uma condição da autoria, que não é prerrogativa apenas dos alfabetizados (...).”.

Portanto, pode existir uma produção escrita desassociada à autoria, assim como pode existir uma produção oral associada a construção de autoria e, à polissêmica, autonomia. E, com isso, há uma ressignificação no conceito de autoria e autonomia, quando se refere aos indígenas.

“(...) no momento em que o sujeito fala, age e a partir de certa identidade, de uma memória, de uma posição discursiva determinada, mas a sua voz se sustenta no sujeito operante, no sujeito que faz escolhas, deseja, tem uma utopia, transforma-se incessantemente, é múltiplo, cambiante.”. (CÉSAR, 2011, p. 92).

Assim, a construção e desenvolvimento da autoria/autonomia indígena se dá, primeiramente, por meio da oralidade. Por exemplo:

“(...) os Pataxó, principalmente de Coroa Vermelha, ao se colocarem como interlocutores em contato direto do governo (...) tentaram produzir seus próprios discursos, colocaram-se na diferença como interlocutores, construíram a sua autoria, que se traduziu também na própria organização da escola indígena. As diversas respostas dependeram da complexidade das diferentes trajetórias de cada um, vividas coletivamente (...).”. (CÉSAR, 2011, p. 92).

REFERÊNCIA:


CÉSAR, América Lúcia Silva. Lições de Abril: a construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 85-100.

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