quarta-feira, 19 de novembro de 2014

SEMANAL: Resenha de livro



O livro objeto dessa resenha intitulado Os contrapontos da literatura indígena no Brasil, de Graça Graúna, trata-se da tese de doutorado da autora. Numa síntese discute a literatura indígena em sua expressão oral e escrita, para provocar uma problematização quanto a composição estilística e especifica que essa literatura possui ao tratar e relatar os costumes, cultura e tradições da população indígena brasileira.
Pelo fato da literatura indígena possuir estética diferente da europeia e canônica, a sua valorização é menor. Diante do menor caráter de incivilidade que é dado ao índio, e também ao negro. A autora faz um panorama do movimento indígena e sua articulação política dando enfoque à organização das mulheres indígenas que buscam reconhecimento durante muito tempo. A autora relata, de maneira profunda e com ênfase, o preconceito literário à literatura indígena, ressaltando o quanto as temáticas dessa literatura adquirem menor valor literário quando associadas à literatura canônica.
Ao longo de todo o texto ela retrata como as manifestações literárias indígenas nascem do discurso de sobrevivência, de vozes que manifestam e desabrocham para o dizer da auto representação e de valores de um povo. A história contada com o sabor dos indígenas conduz a interpretações diferentes da história que profanou os indígenas, como se sabe no processo de colonização.
A autora abre uma discussão acerca da literatura indígena escrita por mulheres, que buscam desmitificar os símbolos pecaminosos referenciados à mulher indígena, enquanto que as "brancas" seriam a representação de pureza e castidade, trazendo ao debate a autora Eliane Potiguara. Essa parte do livro reflete, de forma intensa, quanto o corpo da mulher indígena foi e é observado como um objeto.    
Em seguida, a autora apresenta o trabalho do professor Daniel Munduruku, no resgate as histórias contadas a partir das memórias indígenas, que não possuem escritas relacionadas.  Graúna, traz um levantamento das obras de autoria indígena da ultima década, dos autores: Eliane, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Renê Kithãulu e Daniel Munduruku, fazendo uma apreciação profunda sobre cada um deles e sobre a comunidade indígena que eles pertencem. 
Os Contrapontos da literatura indígena no Brasil, contribui de maneira significativa para levantar problematizações relevantes a respeito da manifestação de costumes indígenas, ou seja, as mais variadas formas desse povo se expressar artisticamente sem que haja um registro oficial, mas que a partir da oralidade que se configura como atividades literárias, e que,  além disso, anuncia a identidade indígena.
O texto de Graúna, pontua aspectos e características da literatura indígena, no seu caráter oral, trazendo reflexões pertinentes e que são de grande valia a discussão em ambientes acadêmicos, especificamente em cursos de licenciaturas, por trazer um suporte teórico, original e coerente a respeito da literatura indígena.

Referência.


REFERÊNCIA:


GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

SEMANAL: Literatura Indígena

INDICAÇÕES:



     Que faço com a minha cara de índia?
E meu sangue
E minha consciência
E minha luta
E nossos filhos?
Eliane Potiguara (apud GRAÚNA, 2013, p. 105)


     Os textos literários apresentados abaixo foram retirados do livro "Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil" de Graça Graúna.




     "(...) o nome Eliane Potiguara (Eliene Lima dos Santos) se destaca em muitos aspectos: escritora, professora formada em Educação e Letras, conselheira da Fundação dos Palmares, membro da organização ASHOKA.". (GRAÚNA, 2013, p. 96).



    Os escritores Olívio Jekupé, Renê Kithãulu, Daniel Munduruku e Yaguarê Yamã são participantes do projeto "contação de histórias".


     "Olívio Jekupé nasceu em 1965, em Itacolomi, no Paraná. A sua avó é de origem Guarani-Nhandeva de Piraju (São Paulo).". (GRAÚNA, 2013, p. 149).



-> Renê Kithãulu

       "Renê Kithãulu é um escritor do povo Waiketusu, da região Nambikwara, localizada no estado do Mato Grosso. (...) O autor trabalh com engenharia de casas indígenas em São Paulo, cidade onde mora há alguns anos, na aldeia do Morro da Saudade.". (GRAÚNA, 2013, p. 161).




     "Daniel Munduruku nasceu no Pará. Formado em Filosofia, licenciado em História e Psicologia e Mestre em Antropologia Social, na USP. Membro do Instituto de Desenvolvimento das Tradições Indígenas (IDETI), do Instituto Brasileiro de Propriedade Intelectual Indígena (IBRAP) e coordenador da coleção Memórias Ancestrais, junto à Fundação Peirópolis; dessa experiência, surgiu o projeto da Editora Palavra de Índio, de sua criação.". (GRAÚNA, 2013. p. 126).




       "Yamã carrega outro nome: Ozias da Costa de Oliveira. Nasceu em 1975, em Paraná Urariá - uma região da qual se leva um dia pelo rio para chegar em Manaus. Yamã é professor de Geografia, graduado em uma universidade paulista.". (GRAÚNA, 2013, p. 140).



REFERÊNCIA:

GRAÚNA, Graça. Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

SEMANAL: Síntese de Livro


“LIÇÕES DE ABRIL: A CONSTRUÇÃO DA AUTORIA ENTRE OS ÍNDIOS PATAXÓ DE COROA VERMELHA” DE AMÉRICA LÚCIA CESAR



Pataxó de Coroa Vermelha. Referência.
O livro “Lições de Abril: A construção da autoria entre os índios Pataxó de Coroa Vermelha” escrito por América Lúcia Silva Cesar, é dividido em três partes. Nessas partes são apresentadas sobre a construção de um projeto de comemoração pelos 500 anos do Brasil, que pretendia ser executado nos territórios ocupados pelos índios Paxató Hã-Hã-Hãe, em Coroa Vermelha.
Os índios pataxós de Coroa Vermelha, por sua vez, ao terem conhecimento desse projeto demonstraram-se insatisfeitos, promovendo lutas e conflitos. Eles, juntamente com os negros e demais interessados na questão, formaram o “Movimento Brasil 500 anos de Resistência Indígena, Negro e Popular” que ficou conhecido popularmente como “Brasil: outros 500”, o qual apresenta como pautas do documento oficial, ações e reflexões que envolvem tais povos. As primeiras ações desse grupo aconteceram com enfoque em fazer a sociedade refletir sobre esses 500 anos de história do país, bem como a marginalização dos povos envolvidos.
Esse movimento “Brasil outros 500” começou a demonstrar fraqueza devido algumas bipolaridades ideológicas, além disso, eles não eram financiados por partidos ou organizações, o que fortificaria ainda mais o movimento. Em continuidade ao conteúdo, a autora apresenta sobre os Pataxó, apresentando sua história, inclusive que são povos pertencentes à etnia Aimoré de origem Tupi, de tronco Macro-Jê.
Em seguida, América Lúcia apresenta sobre a luta dos Pataxó Hã-Hã-Hãe para conseguirem a demarcação de suas terras e legalização das mesmas, lutando por sua comprovação por meio de Leis e Decretos. Nesse período, os líderes Pataxó foram à Rio de Janeiro encontrar-se com Marechal Rondon para conseguirem suas terras. Após intensas reuniões, protestos e conflitos, os Pataxó fizeram o acordo com o governo para o início das atividades das comemorações dos 500 anos, em troca dessa demarcação e regularização. Ao firmarem acordo, os índios tiveram que lutar por mais quase 30 anos para conseguirem suas terras, com isso, em 2000, os Pataxó ainda encontravam-se em processo de organização de sua política.
Alguns acontecimentos adiantaram que os Pataxó conseguissem suas terras, sendo eles: tentativa dos índios à força da terra; assassinato do líder Pataxó Hã-Hã-Hãe Galdino de Jesus, queimado ao dormir no ponto de ônibus em Brasília; invasão da Reserva da Jaqueira por uma imobiliária que provocou a reação dos Pataxó; ocupação do Monte Pascoal pelos Pataxó, e, protestos e manifestações que visaram conseguir de volta a cruz de madeira e o monumento outrora destruídos pelos policiais em um conflito com os indígenas.
E, nesse decorrer de ideias, a autora apresenta um novo conceito sobre autoria/autonomia, que não devem seguir o modelo obtido pela escola tradicional. A autoria/autonomia indígena não se dá pelo viés da escrita, uma vez que na escola básica se ensina, muitas vezes, que o sujeito precisa dominar as dicotomias escrita/fala para agir ativamente na sociedade. Enquanto isso, os protestos, manifestações, resistências e lutas indígenas comprovam que estes povos têm seu próprio conceito de autoria/autonomia, baseado em suas vivências, experiências e necessidades.
Como prova disso, os Pataxó de Coroa Vermelha lutaram por uma escola específica para os índios em sua comunidade, e conseguiram. Essa escola tem no PPP três pontos principais de ensino, sendo eles: formação turística, tradição oral e luta pela terra. Além disso, na escola, busca-se ensinar o canto e a dança indígena, bem como o bilinguismo (língua indígena e língua portuguesa ou outras). Assim, vale incluir que por outro lado os índios também tiveram seus discursos e pensamentos silenciados por diversas vezes, mas ainda assim eles exercitavam sua autoria/autonomia, com base em sua história e cultura.

REFERÊNCIA

CESAR, América Lúcia Silva. Lições de Abril: a construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA, 2011. 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

SEMANAL: À espera de um território


“O direito à terra é um dos pontos fundamentais da luta por autoderteminação dos povos indígenas no Brasil, e frequentemente traz à tona diversos conflitos, sejam com latifundiários, posseiros, garimpeiros, ambientalistas, sejam no âmbito dos órgãos governamentais.”. (CESAR, 2011).

O direito ao território indígena já é um fator contemplado na lei brasileira, mas ainda é um dos fatores que mais geram conflitos para os índios. Por exemplo, a comunidade indígena Tuxá, foi retirada de sua terra de origem (devido a construção da hidrelétrica de Itaparica), onde os índios possuíam elementos suficientes para a sua subsistência, para habitarem em um local provisório.
Referência.
Em conversa com um dos integrantes dessa comunidade, Aritianã Tuxá, foi percebido que os Tuxá Rodeleiros ainda não saíram desse lugar provisório, local que foram construídas casas para eles morarem, sendo que a Chesf havia garantido que haveria demarcação territorial para essa comunidade, e o não cumprimento dessa “promessa” já completou 25 anos.
Esse problema não atinge somente os Tuxá, mas diversos outros índios, como atingiu os Pataxó Hã-Hã-Hãe de Coroa Vermelha, apresentados por América Lúcia Cesar (2011). Essa autora apresenta, no livro “Lições de Abril”, manifestações e conflitos que essa comunidade vivenciou, principalmente nos anos de 1999 e 2000 para conseguirem suas terras em um movimento popularmente conhecido por "Brasil outros 500". Esses acontecimentos atingiram pequenas conquistas para os índios Pataxó de Coroa Vermelha e grandes dizimações dos mesmos.

Referência.

REFERÊNCIA

CESAR, América Lúcia Silva. Lições de Abril: a construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA, 2011. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

SEMANAL: Um pouco de História



“Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros com negros africanos, uns e outros aliciados como escravos.”. (RIBEIRO, 1995, p. 19).

"O Descobrimento do Brasil" - Portinari
A mestiçagem do Brasil é resultado do contexto de formação histórica do país. Os índios já habitavam nesta nação e, posteriormente (1500), chegaram os portugueses que saíram da Europa querendo chegar às Índias e pararam na tal "grande ilha" (ver charge abaixo).
Nesse período, acontecia no mundo o marco histórico da expansão marítima, sendo Portugal e Espanha os dois países europeus que mais se expandiam em busca de riquezas como metal e ouro, além de especiarias.
     Com a chegada dos portugueses e conhecimento do território, eles verificaram a grande quantidade de riquezas naturais do país e passaram a explorá-lo, fazendo os índios de escravos. Mas, os índios trabalhavam para a sua própria subsistência e não produziam excessivamente como queriam os colonizadores. Assim, os lusitanos trouxeram africanos para trabalharem com mão-de-obra escrava no país.
Assim, nesse longo processo de contatos entre distintas raças, etnias, culturas e identidades, foi-se formando os brasileiros. Nesse caso, formou-se a “segunda Europa”, como afirma Ruggero Jacobbi (apud CANDIDO 2010, p. 13).
No Brasil formou-se a “segunda Europa” devido os modelos europeus que foram implantados e transportados no país. Esses modelos foram seguidos na literatura, religião, administração e língua. Na literatura, por exemplo, começou-se a se construir projeto que se afastasse de Portugal, no Romantismo.
No Romantismo, após a Proclamação da Independência, o Brasil começou a criar sua própria autonomia. Mesmo assim, somente no Modernismo que foi-se criado um projeto estético-ideológico de arte relacionada à realidade do país, com base na formação histórica do mesmo.
E, a língua portuguesa, por exemplo, tornou-se obrigatória no país após o decreto pombalino e, a sua difusão é marcada pelas variações e mudanças ocorridas de maneria distinta em cada território, o que promoveu o afastamento entre a língua portuguesa lusitana e a língua portuguesa brasileira.


Referência.


REFERÊNCIAS:

CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. 6ª ed. Rio Janeiro: Ouro sobre Azul, 2010.


RIBEIRO,  Darcy. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 19-26.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

SEMANAL: Uma Introdução


“Por que o Brasil ainda não deu certo?
Meu sentimento era de que nos faltava uma teoria geral, cuja luz nos tornasse explicáveis em seus próprios termos, fundada em nossa experiência histórica.”. (RIBEIRO, 1995, p. 13).

Referência
Há muito tempo inúmeros teóricos buscam interpretar a identidade do Brasil para compreendê-lo melhor, mas esses estudos só provam que ainda há forte presença do “complexo de vira-latas” (RODRIGUES, 1993) no país. Esse fator (ou símbolo) é um dos causadores dos problemas: abaixo auto estima e alteridade dos brasileiros.
A arte, política, cultura e educação do país ainda têm fundamentações baseadas em modelos internacionais, os quais fizeram parte diretamente da formação híbrida da nação. A literatura, por exemplo, só começou a falar da tríade racial da mestiçagem brasileira de maneira sólida, no modernismo. Esse período foi marcado também pela publicação de Macunaíma por Mário de Andradecriação da Antropofagia de Oswald de Andrade, dentre outras obras e pensamentos que ainda apresentaram certas deficiências.
Foi somente na contemporaneidade que a inserção do negro e índio na literatura engatinhou um pouco mais rápido. Essas duas raças subestimadas, estereotipadas, dizimadas, subalternadas e marginalizadas, começaram a ganhar e fazer sua própria voz no cenário da arte e política brasileira. Com tudo isso, ainda somos uns desterrados em nossa própria terra, como afirma Sérgio Buarque de Holanda (1995).
Assim, o Brasil ainda não deu certo porque começou errado, e esse começo ainda não foi completamente contrariado. Para mudar o presente é preciso estudar e entender o passado de maneira conscientizadora.



REFERÊNCIAS:

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 11-17. 

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 51-52.

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O Blog

      


Este blog foi criado com a pretensão de pesquisar e divulgar sobre os grupos indígenas da Bahia, embora o enfoque deste trabalho será dado à comunidade Tuxá localizada em Rodelas. Segundo dados retirados do site ANAÍ, além de Rodelas, há comunidade Tuxá em Ibotirama, Remanso e Banzaê – localizados na Bahia.

Vale acrescentar que este blog faz parte de uma proposta de trabalho do componente “História e Cultura Indígenas” da Universidade do Estado da Bahia – Campus V, Departamento de Ciências Humanas (DCH), localizada na cidade de Santo Antônio de Jesus – BA. Esse componente é ministrado pela professora Drª. Rosemere Ferreira da Silva. Para tanto, o blog é organizado por Flaviane Borges, Elisiane Nascimento e Carlos Barreto, os quais contam com a colaboração e participação dos Tuxás de Rodelas Aritianã Tuxá e Eduarda Tuxá (Veja mais sobre os organizadores e Colaboradores do blog).

INDICAÇÕES DE LEITURAS:

 "Lições de Abril: a construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha"
 -> de América Lúcia Silva Cesar

Referência.


"O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil
-> Darcy Ribeiro

Referência.

 "Contrapontos da literatura indígena contemporânea no Brasil"
 -> de Graça Graúna

Referência.