“LIÇÕES
DE ABRIL: A CONSTRUÇÃO DA AUTORIA ENTRE OS ÍNDIOS PATAXÓ DE COROA VERMELHA” DE
AMÉRICA LÚCIA CESAR
Pataxó de Coroa Vermelha. Referência. |
O livro “Lições de
Abril: A construção da autoria entre os índios Pataxó de Coroa Vermelha”
escrito por América Lúcia Silva Cesar, é dividido em três partes. Nessas partes
são apresentadas sobre a construção de um projeto de comemoração pelos 500 anos
do Brasil, que pretendia ser executado nos territórios ocupados pelos índios
Paxató Hã-Hã-Hãe, em Coroa Vermelha.
Os índios pataxós de
Coroa Vermelha, por sua vez, ao terem conhecimento desse projeto demonstraram-se
insatisfeitos, promovendo lutas e conflitos. Eles, juntamente com os negros e
demais interessados na questão, formaram o “Movimento Brasil 500 anos de
Resistência Indígena, Negro e Popular” que ficou conhecido popularmente como
“Brasil: outros 500”, o qual apresenta como pautas do documento oficial, ações
e reflexões que envolvem tais povos. As primeiras ações desse grupo aconteceram
com enfoque em fazer a sociedade refletir sobre esses 500 anos de história do
país, bem como a marginalização dos povos envolvidos.
Esse movimento “Brasil
outros 500” começou a demonstrar fraqueza devido algumas bipolaridades ideológicas,
além disso, eles não eram financiados por partidos ou organizações, o que
fortificaria ainda mais o movimento. Em continuidade ao conteúdo, a autora
apresenta sobre os Pataxó, apresentando sua história, inclusive que são povos
pertencentes à etnia Aimoré de origem Tupi, de tronco Macro-Jê.
Em seguida, América
Lúcia apresenta sobre a luta dos Pataxó Hã-Hã-Hãe para conseguirem a demarcação
de suas terras e legalização das mesmas, lutando por sua comprovação por meio
de Leis e Decretos. Nesse período, os líderes Pataxó foram à Rio de Janeiro
encontrar-se com Marechal Rondon para conseguirem suas terras. Após intensas
reuniões, protestos e conflitos, os Pataxó fizeram o acordo com o governo para
o início das atividades das comemorações dos 500 anos, em troca dessa
demarcação e regularização. Ao firmarem acordo, os índios tiveram que lutar por
mais quase 30 anos para conseguirem suas terras, com isso, em 2000, os Pataxó
ainda encontravam-se em processo de organização de sua política.
Alguns acontecimentos
adiantaram que os Pataxó conseguissem suas terras, sendo eles: tentativa dos índios
à força da terra; assassinato do líder Pataxó Hã-Hã-Hãe Galdino de Jesus,
queimado ao dormir no ponto de ônibus em Brasília; invasão da Reserva da
Jaqueira por uma imobiliária que provocou a reação dos Pataxó; ocupação do
Monte Pascoal pelos Pataxó, e, protestos e manifestações que visaram conseguir
de volta a cruz de madeira e o monumento outrora destruídos pelos policiais em
um conflito com os indígenas.
E, nesse decorrer de
ideias, a autora apresenta um novo conceito sobre autoria/autonomia, que não
devem seguir o modelo obtido pela escola tradicional. A autoria/autonomia
indígena não se dá pelo viés da escrita, uma vez que na escola básica se ensina,
muitas vezes, que o sujeito precisa dominar as dicotomias escrita/fala para
agir ativamente na sociedade. Enquanto isso, os protestos, manifestações,
resistências e lutas indígenas comprovam que estes povos têm seu próprio
conceito de autoria/autonomia, baseado em suas vivências, experiências e
necessidades.
Como prova disso, os
Pataxó de Coroa Vermelha lutaram por uma escola específica para os índios em
sua comunidade, e conseguiram. Essa escola tem no PPP três pontos principais de
ensino, sendo eles: formação turística, tradição oral e luta pela terra. Além
disso, na escola, busca-se ensinar o canto e a dança indígena, bem como o
bilinguismo (língua indígena e língua portuguesa ou outras). Assim, vale
incluir que por outro lado os índios também tiveram seus discursos e
pensamentos silenciados por diversas vezes, mas ainda assim eles exercitavam
sua autoria/autonomia, com base em sua história e cultura.
REFERÊNCIA
CESAR, América Lúcia Silva. Lições de Abril: a construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA, 2011.
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