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LIÇÃO 1: A DUPLICIDADE DA CRUZ: AUTORIA E TEMPO
Referência. |
“A comunidade da Aldeia de Coroa Vermelha não aceita a
cruz de bronze, do artista plástico Mário Cravo Neto, projetada para substituir
a antiga, de madeira, que há anos marca o lugar onde foi celebrada a primeira
missa do Brasil”. (CÉSAR, 2011, p. 101).
Para compreender melhor o acontecimento sobre
a não aceitação dessa cruz de bronze, é preciso retomar um pouco as leituras, apresentando
a contextualização do acontecimento. Assim:
“No início do mês de abril de 2000, os índios Pataxó
ocuparam a Fazenda Guanabara, no entorno do Monte Pascoal, como forma de
protesto contra a festa dos 500, exigindo a demarcação da área como terra
indígena. Em Coroa Vermelha, a Polícia Militar do Estado da Bahia invadiu a
terra indígena no dia 4 de abril e derrubou o monumento de resistência indígena
projetado pelo artista Dan Baron, o mesmo que fez o monumento em homenagem às
vitimas do massacre do Eldorado dos Carajás.” (CÉSAR, 2011, p. 73).
A projeção da cruz de bronze criada por Mário
Neto, fez surgir mais um ponto para as manifestações e reivindicações dos índios
naquele período em que os oficiais do governo buscavam desapropriar a terra
habitada pelos Pataxó de Coroa Vermelha para a criação do MADE (em comemoraçãodos 500 anos do Brasil).
Na verdade, o que os pataxós queriam era
justamente uma cruz simples que representasse, como a de outrora, a primeira
missa do Brasil. Assim, a cruz deveria ser similar à encontrada anteriormente,
feita de madeira [pau-brasil]. Com isso, constata-se que essa luta envolve
questões simbológicas, semânticas e históricas.
“No entanto, os representantes do governo na área tomaram
diversas iniciativas para pressionar os Pataxó de Coroa Vermelha e atacar a presença
da Polícia Militar e desistir da ideia da construção do monumento projetado
pelo artista galês”. (CÉSAR, 2011, p. 74).
E, sob represálias por parte do governo, os
indígenas continuaram lutando para conquistarem o que, de fato, almejavam
(demarcação e legalização de suas terras; colocação da cruz no local de origem;
dentre outros). Assim, os pataxós conseguiram a implantação da cruz de forma
similar a de antes.
Mas, de acordo com a liderança da comunidade,
os políticos não estariam satisfeitos com essa realização, pois defendiam que a
cruz de metal possuía mais valor que a de madeira.
Por outro lado, os índios também conseguiram
acordar sobre o recebimento de suas terras. Mas, os representantes
governamentais demoraram na construção de casas para serem entregues aos
indígenas, em troca da saída deles da terra onde ficavam anteriormente.
Com isso, pode-se verificar que o discursos
orais dos indígenas estão continuamente entrelaçados à autoria/autonomia, além
de estarem imbricados à luta, resistência e persistência.
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