quinta-feira, 23 de abril de 2015

3/10: Lição 1


3/10 LIÇÃO 1: A DUPLICIDADE DA CRUZ: AUTORIA E TEMPO

Referência.

“A comunidade da Aldeia de Coroa Vermelha não aceita a cruz de bronze, do artista plástico Mário Cravo Neto, projetada para substituir a antiga, de madeira, que há anos marca o lugar onde foi celebrada a primeira missa do Brasil”. (CÉSAR, 2011, p. 101).

Para compreender melhor o acontecimento sobre a não aceitação dessa cruz de bronze, é preciso retomar um pouco as leituras, apresentando a contextualização do acontecimento. Assim:

“No início do mês de abril de 2000, os índios Pataxó ocuparam a Fazenda Guanabara, no entorno do Monte Pascoal, como forma de protesto contra a festa dos 500, exigindo a demarcação da área como terra indígena. Em Coroa Vermelha, a Polícia Militar do Estado da Bahia invadiu a terra indígena no dia 4 de abril e derrubou o monumento de resistência indígena projetado pelo artista Dan Baron, o mesmo que fez o monumento em homenagem às vitimas do massacre do Eldorado dos Carajás.” (CÉSAR, 2011, p. 73).

A projeção da cruz de bronze criada por Mário Neto, fez surgir mais um ponto para as manifestações e reivindicações dos índios naquele período em que os oficiais do governo buscavam desapropriar a terra habitada pelos Pataxó de Coroa Vermelha para a criação do MADE (em comemoraçãodos 500 anos do Brasil).
Na verdade, o que os pataxós queriam era justamente uma cruz simples que representasse, como a de outrora, a primeira missa do Brasil. Assim, a cruz deveria ser similar à encontrada anteriormente, feita de madeira [pau-brasil]. Com isso, constata-se que essa luta envolve questões simbológicas, semânticas e históricas.

“No entanto, os representantes do governo na área tomaram diversas iniciativas para pressionar os Pataxó de Coroa Vermelha e atacar a presença da Polícia Militar e desistir da ideia da construção do monumento projetado pelo artista galês”. (CÉSAR, 2011, p. 74).

E, sob represálias por parte do governo, os indígenas continuaram lutando para conquistarem o que, de fato, almejavam (demarcação e legalização de suas terras; colocação da cruz no local de origem; dentre outros). Assim, os pataxós conseguiram a implantação da cruz de forma similar a de antes.
Mas, de acordo com a liderança da comunidade, os políticos não estariam satisfeitos com essa realização, pois defendiam que a cruz de metal possuía mais valor que a de madeira.
Por outro lado, os índios também conseguiram acordar sobre o recebimento de suas terras. Mas, os representantes governamentais demoraram na construção de casas para serem entregues aos indígenas, em troca da saída deles da terra onde ficavam anteriormente.
Com isso, pode-se verificar que o discursos orais dos indígenas estão continuamente entrelaçados à autoria/autonomia, além de estarem imbricados à luta, resistência e persistência.
  

REFERÊNCIA:

CÉSAR, América Lúcia Silva. Lições de Abril: a construção da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA, 2011, p. 73-117.

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