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DE ABRIL: INTRODUÇÃO
O livro “Lições de Abril: a construção
da autoria entre os
Pataxó de Coroa Vermelha” foi escrito por América Lúcia, a
qual é graduada em Letras Vernáculas com Estrangeira, pela UFBA; possui
mestrado em Letras e Linguística, pela UFBA; e doutorado em Linguística Aplicada
pela Unicamp. Apresentado sobre a autora do livro vale apresentar também sobre
o livro.
Vale pontuar que esta introdução está
pautada na primeira parte do livro: “Abril 2000 a guerra dos 500 anos”.
Em contextualização, o Brasil foi achado em
1500 e colonizado em 1532, período de criação das Capitanias Hereditárias.
Assim, os portugueses passaram a colonizar o país, causando diversos problemas
aos autóctones como: genocídio, deturpações, preconceito étnico-racial, dentre
outras intervenções que feriram a identidade indígena deste país.
E, vale esclarecer que os mitos atribuídos aos
indígenas não passaram (e passam) de estereótipos e recriação da identidade
indígena, transformando-a em utópica. As características mitológicas atribuídas
aos indígenas, criadas pelos lusitanos, são reproduzidas em certos discursos
brasileiros até os dias atuais.
Voltando ao assunto, 500 anos depois que o
Brasil foi encontrado, decidiu-se comemorar esse histórico aniversário. E, as
comemorações dos 500 anos do Brasil causaram inúmeros conflitos e revoltas
entre oficiais do governo e os indígenas Pataxó Hã Hã Hãe de Coroa Vermelha, situado
em Porto Seguro – BA. Esse local foi escolhido para se realizar um projeto proposto
pela Comissão Nacional* de comemoração pelo “achamento” da nação.
A proposta desse projeto se configurava na
construção do Museu Aberto ao Descobrimento (MADE), da Fundação Quadrilátero do
Descobrimento. Assim: “O referido projeto pregava a defesa do patrimônio
cultural ambiental da região e prometia ‘beleza, ordem e informação’.” (CÉSAR,
2011, p. 28). Mas, por traz dessa história havia a “apologia” ao turismo que
está intrinsicamente ligado ao poder aquisitivo. E, por sinal, este projeto
fazia alusão à chegada dos lusitanos, porém marginalizava as populações
indígenas.
Para essa comemoração se efetivarem, de fato,
os oficiais precisariam resolver um “pequeno” entrave que supostamente os atrapalhavam.
As terras escolhidas para a construção do Made, eram habitadas pela comunidade
Pataxó Hã Hã Hãe. Assim, à implantação desse projeto foi se desdobrando em
negociações entre o governo e os indígenas, os quais almejavam a regulamentação
das terras indígenas de Coroa Vermelha.
Nesse processo de negociação, houve a criação
do movimento interétnico “Brasil: 500 Anos de Resistência Indígena, Negra e
Popular” que apresenta em seu manifesto as seguintes características:
“O documento oficial estabelece as linhas de ação do
movimento “Brasil: 500 Anos de Resistência Indígena, Negra e Popular”, ou “Brasil:
outros 500”**, como ficou popularmente conhecido. A leitura da história da
colonização no Brasil exposta no manifesto começa por explicitar o lugar de
onde se fala no movimento: ‘um lugar bem definido – dos que sofreram e lutaram
contra a espoliação colonial e exploração de classe, dos condenados da terra,
das periferias das cidades e da história oficial’.” (CÉSAR, 2011, p. 33).
Assim, as manifestações negras e indígenas tinham
como um dos propósitos: promover estímulos para que a sociedade da nação
compreendesse e refletisse sobre os 500 anos de história do país sobre o ponto
de vista que inclui os índios, negros e populares. Porém, um dos fatores que
fizeram o movimento desandar foi: os discursos e ações deste projeto passou a
tomar divergentes rumos, cada etnia buscava enfocar as lutas em temáticas que
envolvessem suas respectivas identidades e necessidades.
Enquanto isso, as tentativas, manifestações e
resistências dos Pataxó continuavam. Mesmo sob dificuldades e flexibilidades de
cunho político-organizacional, os Pataxó promoviam momentos de conflitos para retomar
suas terras, conforme regularização de sua posse. Uma vez que, o direito à
terra é uma das lutas que não caracterizaram apenas esta comunidade indígena,
mas que ainda caracterizam diversas outras comunidades indígenas brasileiras.
“Em relação à demarcação da Terra Indígena de Coroa
Vermelha, em 1985, a Funai deu início ao processo de regularização fundiária da
área indígena. Tal processo sofreria
sucessivos entraves (...).
Em 1996 e 1999 [mais de 10 anos depois], desenrolou-se a
última etapa para o processo para a demarcação da Terra Indígena de Coroa
Vermelha.”. (CÉSAR, 2011, p. 49).
Nesse período, em 1997, dois fatores impulsionaram
ainda mais a reação e mobilização dos indígenas: 1- o assassinado do índioPataxó Galdino de Jesus que repercutiu nacionalmente, gerando grande comoção; 2-
a imobiliária Góes-Cohabita invadiu a área da mata onde fica a atual Reserva daJaqueira, buscando explorar a madeira do local. Esses dois acontecimentos e a
reação dos Pataxó fizeram viabilizar o adiantamento do processo de legalização
das terras de Coroa Vermelha.
“No dia 14 de outubro de 1997, o ministro da Justiça,
Íris Resende, finalmente assinou uma Portaria, publicada no Diário Oficial da
União em 16 de outubro de 1997, declarando ‘de posse permanente indígena’ a
área de Coroa Vermelha, no litoral dos municípios de Santa Cruz Cabrália e
Porto Seguro, Bahia”. (CÉSAR, 2011, p. 52).
OS
PATAXÓ HÃ HÃ HÃE:
Segundo América Lúcia (2011), os Pataxó são oriundos dos povos Aimóres (assim identificados
pelos colonizadores), etnia classificadas no tronco Macro-Jê. Por conseguinte,
os Aimorés habitavam a costa leste do país.
*Comissão
Nacional: “(...) comissão interministerial criada em 1993 para motivar a
sociedade civil e o poder publico para a importância das comemorações dos 500
anos (...)”. (LÚCIA, 2011, p. 13).
** A
redução do nome do movimento “Brasil: 500 Anos de Resistência Indígena, Negra e
Popular” para “Brasil: outros 500” pode ser considerada política, pois vai além
de facilitar a pronuncia ou referência ao movimento. Isso seria, na verdade,
uma forma de ocultar os sujeitos que estavam à frente dessa luta, promovendo um
combate de cunho interétnico.
REFERÊNCIAS:
CÉSAR,
América Lúcia Silva. Lições de Abril: a construção
da autoria entre os Pataxó de Coroa Vermelha. Salvador: EDUFBA, 2011, p.
25-84.
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4700126Z2
OBS¹: Este é o início de uma proposta que
visa colocar em pauta questões e reflexões importantes a serem trabalhada neste
blog. Assim, a cada dia (até o final de abril) será publicado um texto
referente o livro “Lições de Abril” escrito por América Lúcia. Nada melhor do
que falar sobre “Lições de Abril” em abril.