O livro objeto dessa resenha intitulado Os contrapontos da literatura indígena no Brasil, de Graça Graúna,
trata-se da tese de doutorado da autora. Numa síntese discute a literatura
indígena em sua expressão oral e escrita, para provocar uma problematização
quanto a composição estilística e especifica que essa literatura possui ao tratar
e relatar os costumes, cultura e tradições da população indígena brasileira.
Pelo fato da literatura indígena possuir estética diferente da europeia
e canônica, a sua valorização é menor. Diante do menor caráter de incivilidade
que é dado ao índio, e também ao negro. A autora faz um panorama do movimento
indígena e sua articulação política dando enfoque à organização das mulheres
indígenas que buscam reconhecimento durante muito tempo. A autora relata, de
maneira profunda e com ênfase, o preconceito literário à literatura indígena,
ressaltando o quanto as temáticas dessa literatura adquirem menor valor
literário quando associadas à literatura canônica.
Ao longo de todo o texto ela retrata como as manifestações literárias indígenas
nascem do discurso de sobrevivência, de vozes que manifestam e desabrocham para
o dizer da auto representação e de valores de um povo. A história contada com o
sabor dos indígenas conduz a interpretações diferentes da história que profanou
os indígenas, como se sabe no processo de colonização.
A autora abre uma discussão acerca da literatura indígena escrita por
mulheres, que buscam desmitificar os símbolos pecaminosos referenciados à
mulher indígena, enquanto que as "brancas" seriam a representação de pureza e
castidade, trazendo ao debate a autora Eliane Potiguara. Essa parte do
livro reflete, de forma intensa, quanto o corpo da mulher indígena foi e é observado
como um objeto.
Em seguida, a autora apresenta o trabalho do professor Daniel
Munduruku, no resgate as histórias contadas a partir das memórias indígenas,
que não possuem escritas relacionadas. Graúna,
traz um levantamento das obras de autoria indígena da ultima década, dos
autores: Eliane, Yaguarê Yamã, Olívio Jekupé, Renê Kithãulu e Daniel Munduruku, fazendo uma apreciação profunda sobre cada um deles e sobre a comunidade indígena que eles pertencem.
Os Contrapontos da
literatura indígena no Brasil, contribui de maneira significativa para levantar problematizações relevantes a respeito da manifestação de costumes indígenas, ou
seja, as mais variadas formas desse povo se expressar artisticamente sem que haja um
registro oficial, mas que a partir da oralidade que se configura como atividades literárias, e que, além disso, anuncia a identidade indígena.
O texto de Graúna, pontua aspectos e características da literatura
indígena, no seu caráter oral, trazendo reflexões pertinentes e que são de
grande valia a discussão em ambientes acadêmicos, especificamente em cursos de
licenciaturas, por trazer um suporte teórico, original e coerente a respeito da
literatura indígena.
Referência. |
REFERÊNCIA:
GRAÚNA, Graça. Contrapontos
da literatura indígena contemporânea no Brasil. Belo Horizonte: Mazza
Edições, 2013.